Farrapos de alma em palavras rasgados: a transcendência nos termos de Mia Couto

Mafalda Soares

Abstract


Apoiando-se na análise de passagens de certas obras de Mia Couto, o presente artigo tem por objetivo mostrar que a transcendência é característica essencial do processo literário. O vocábulo “transcendência” será, neste âmbito, entendido como indagação que se espraia para além de limites estabelecidos, e o escritor será apresentado como figura que passa por três fases de transcendência. Em primeiro lugar, o autor superará os a priori que foi atribuindo ao mundo, regressando a uma atitude pueril de maravilhamento. Esta atitude fará com que o real apareça renovado e desvende aspetos outrora ocultados. Em segundo lugar, o artista sentirá necessidade de exceder as fronteiras da língua-padrão, a fim de melhor retratar uma sua experiência empírica. Não esqueceremos de mencionar que a língua, ainda que estirada pelo escritor, é sempre uma sugestão – e nunca um fiel retrato – da singular vivência de cada sujeito. Em terceiro lugar, o escritor acabará por se transcender a si mesmo: não apenas no sentido em que transformará um pedaço da sua existência em escrita – permitindo que o seu testemunho ultrapasse o recinto individual em que foi gerado –, mas ainda, e sobretudo, no sentido em que possibilitará a outrem ir para além dos sentidos autorais primeiros.


Keywords


Mia Couto; transcendência; literatura; escritor; língua

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Moderna språk - Romanska och klassiska institutionen - Stockholms universitet - SE-106 91 STOCKHOLM
ISSN: 2000-3560